terça-feira, 10 de maio de 2011

Entrevista à Dr.ª Joana Jardim

1. Existem alunos na escola com distúrbios alimentares?

   Os distúrbios alimentares são doenças do foro psiquiátrico relacionadas com uma disfunção a nível alimentar com implicações graves para a saúde. Neste grupo de doenças incluem-se a anorexia nervosa, bulimia e as crises de voracidade alimentar ou “binge eating”. Estas doenças não são muito comuns na população em geral, variando entre cerca de 0,3% a 1%. À semelhança desta prevalência geral, na nossa escola, estes casos são poucos. Mas temos de estar atentos e saber identificá-los para os podermos ajudar.

2. De que maneira consegue ajudar esses alunos?

   O primeiro passo é identificar os alunos, com a colaboração do director de turma. Em seguida, o aluno tem de assumir que precisa de ajuda e de querer ser ajudado. Este é o passo mais difícil, uma vez que na maioria dos casos, os alunos não assumem que necessitam de ajuda nem reconhecem que estão doentes. Posto isto, é feito um aconselhamento alimentar individualizado, cujo objectivo é o de corrigir os maus hábitos alimentares, propondo alternativas alimentares mais saudáveis e adequadas a cada aluno. Se a situação for mais grave terá de ser feito um encaminhamento para um centro de saúde/hospital.


3. Já fez algum estudo sobre o tipo de alimentação aos alunos desta escola?

   Sim, já avaliei no início do ano os hábitos alimentares de alguns alunos desta escola e vou fazê-lo novamente no final. Constatei que a maioria dos alunos não atinge os níveis de ingestão de fruta, legumes/sopa, preconizados pela roda dos alimentos portuguesa, e ainda que o pequeno-almoço é incompleto e à base de leite e cereais açucarados.


4. Em que idade acha que os alunos (pessoas) começam a se preocupar com a alimentação?

   A idade com que as pessoas começam a preocupar-se com a alimentação é relativa. Há muitas que só se preocupam quando já têm algum problema de saúde relacionado com os seus maus hábitos alimentares, porque se vêm obrigadas a fazê-lo. Mas, pela minha experiência cá na escola, tenho verificado que são os mais pequenos que mais se interessam pela alimentação e são os que mais transmitem a mensagem aos pais.


5. Acha que as sandes e os sumos saudáveis tiveram boa aderência por parte da comunidade escolar?

   Do ponto de vista geral, a inclusão de alternativas mais saudáveis no bufete, como as sandes com salada, sumo de laranja e batidos de fruta, teve boa adesão. Contudo, o grupo que mais aderiu foi os professores. Penso que agora é uma questão de tempo para se criarem novos hábitos, e de serem vocês também a darem o exemplo aos vossos colegas.


6. Qual é a idade que considera que há uma maior probabilidade (risco) de contrair doenças relacionadas com o tipo de alimentação?

   Desde muito cedo que há risco de se contrair doenças relacionadas com o tipo de alimentação. É claro que as crianças e jovens são os grupos mais sensíveis aos desequilíbrios alimentares, uma vez que estão em crescimento. Uma alimentação desequilibrada poderá prejudicar o seu crescimento e rendimento escolar, aumentando o risco de aparecimento de doenças devido à carência/excesso de algum nutriente.

   Temos o exemplo da obesidade, que é cada vez mais prevalente nas nossas crianças/jovens e que já é considerada a epidemia do século XXI, pela Organização Mundial de Saúde. Um estudo realizado recentemente verificou que 30,8% das crianças portuguesas entre os 7 e os 9 anos de idade tinha excesso de peso/obesidade. Este facto alerta-nos para a importância da adopção de um estilo de vida saudável desde cedo.


7. O que considera ser um pequeno-almoço saudável?

   O pequeno-almoço é a refeição mais importante do dia e deverá contribuir com 15% para o valor calórico diário. Vários estudos comprovaram que a não toma diária do pequeno-almoço diminuir o rendimento escolar, por aumentar os défices de atenção e potenciar o cansaço.

   Um pequeno-almoço equilibrado e completo deverá ser constituído por uma fonte láctea: leite ou iogurte, uma fonte de hidratos de carbono: pão ou cereais/bolachas não açucaradas e por fim, uma peça de fruta.

Joana Jardim

Nutricionista
ESAS

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